sábado, 17 de dezembro de 2022

A FLOR QUE NÃO TE DEI...







Coleciono mil fracassos e o descompasso me acompanha nos últimos dias. A decepção e a frustração daqueles que esperam de mim alguma reação carregada com um pouco de nobreza e honra é tamanha.

Sou um projeto que se perdeu na imensidão e na complexidade das escolhas da vida, sou uma promessa que não alcançou seu apogeu. Sou aquele pianista do S.S. Virginian que se acostumou a navegar em mares tortuosos mas que lhe faltou coragem para desembarcar em terra firme e viver a vida sem medo.

Sou vencido pelo cansaço, sou a própria contradição, sou um abstraído, inconvicto e solitário, mesmo com mil pessoas ao redor.

Piso em ruas de ouro sem qualquer cuidado e fé, parto corações sem razão, tão natural em mim é a inclinação para semear sofrimento, não me deixar acessar, não me deixar transparecer.

Luto contra mim e contra minhas fraquezas sem que haja vencedor, mantenho-me inerte, sem norte, no obscuro do meu ser, no meu egoísmo sincero, nas trapaças do destino que trilhei, na vergonha de não ter feito o certo, na derradeira decisão que não tomei!

Tarde ou não estou aqui, com a sombra do que me restou, com lamentos do que eu poderia ter sido, sob a pesada pena do amor que não espalhei.

Tarde ou não eu morri, me perdi, te mergulhei em pecados dos quais jamais escapou.

Perdão não cabe mais, tarde ou não, ficou pra trás, nem um afeto ao menos, nem um teto como queríamos, só o fruto bendito desse vento que passou em nossas vidas.


Neto Vilhena 

sábado, 11 de dezembro de 2021

O MEDO DAS INFINITAS POSSIBILIDADES


 

Pela Primeira vez, aos 27 anos, o pianista 1900 se encoraja para pisar em terra firme, mas para no meio das escadas...

 

 

"Max, por favor, você poderia me mostrar onde isso termina? Não foi o que vi que me impediu de descer desse navio, foi o que eu não vi! Você pode entender isso? O que eu não vi! Em toda aquela cidade extensa, havia tudo, exceto um fim. Tinha tudo, mas não tinha fim. O que eu não conseguia ver era onde tudo isso terminava. O fim do mundo. Pegue um piano, as teclas começam, as teclas terminam. Você sabe que há 88 delas e ninguém pode dizer algo diferente. Elas não são infinitas, e nessas 88 teclas a música que você pode fazer é infinita. Eu gosto disso, porque eu posso viver. Mas se você naquela mesa, desenrola um teclado com milhões de teclas, e essa é a verdade, elas não têm fim, esse teclado é infinito. Mas se esse teclado for infinito, não há música para tocar. Você está sentado no banco errado. Esse é o piano de Deus.

Jesus Cristo! Você viu as ruas? Há milhares delas! Como você escolhe apenas uma? Uma mulher, uma casa, um pedaço de terra para chamar de seu, uma paisagem para olhar, uma maneira de morrer. Todo aquele mundo pesando sobre você sem que você saiba onde termina. Você não tem medo de apenas se separar só de pensar nisso, na enormidade de viver nisso? Eu nasci neste navio. O mundo passou por mim, mas duas mil pessoas de cada vez. E haviam desejos aqui, mas nunca mais do que caberia em um navio, entre a proa e a popa.

Você tocou sua felicidade em um piano que não era infinito. Aprendi a viver assim. A terra é um navio grande demais para mim. É uma mulher linda demais, é uma viagem muito longa, um perfume muito forte, é uma música que não sei fazer. Eu não posso sair deste navio! Na melhor das hipóteses, posso sair da minha vida. Afinal, é como se eu nunca tivesse existido. Você é a exceção, Max. Você é o único que sabe que estou aqui. Você é uma minoria. É melhor você se acostumar com isso.

Perdoe-me, meu amigo. Mas eu não vou descer.

Após essa conversa, o navio S.S. Virginian já sucateado, foi afundado com explosivos.

 

Adaptação do diálogo final entre Max e Danny Boodman T. D. Lemon 1900, do filme "The Legend of 1900" de Giuseppe Tornatore, baseado no monólogo de Alessandro Baricco.

sábado, 30 de janeiro de 2021

PRESO EM MIM


Existem vários tipos de prisões; as convencionais, físicas e imundas, e também aquelas que não vemos ou não sentimos. Elas podem ser confortáveis, cômodas, limpas e também oferecer bons companheiros de cela. Elas não mantém cercas aparentes, nada que te faça pensar que esteja numa prisão; simulam um ambiente de aparente liberdade onde é possível caminhar alguns metros sem sentir-se como um condenado. O seu pensamento cria a sua realidade. É plausível que você nasça, viva e morra sem que em algum momento da vida tenha percebido que era um escravo, que era um preso vivendo numa cela com jeito de casa, toda decorada e relativamente habitável. Pode ser assim para sempre, se você quiser!

Neto Vilhena

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

NOSSOS DIAS SEM FIM


Olhe bem para o seu dia
Antes o derradeiro e inesquecível beijo ao indecifrável e enigmático abraço no portão
Agora pelo menos te provei, conheci tua boca e recebi conforto nela
Essa é nossa breve história
Com frases de amor, cuidado e respeito
Como um poema que insiste em dizer querer estar longe de você, longe do teu lado...
Não sei te ler por completo, além dessa angustia e inquietude, porém, há virtudes e desejo de viver a utópica plenitude
Um pequeno furacão, que perde a força quando encontra aconchego e segurança nos braços de alguém
Mas o amor ainda insiste em fugir de ti, sem qualquer aviso ou dar explicação
Não há exatidão!
Somos como nosso herói, perturbados, tristes e melancólicos, ante a fome de amar...
Nesse mar, navegamos sem rumo; nos compreendemos e nos perdemos juntos
Nossos corpos vibram em busca de significados e alegrias, duas feras que não querem mais jogar esse jogo do amor
Queremo-nos na sua própria essência, queremos sê-lo, ante às tempestades, lutas e guerras que nos privam da paz e da luz
Esses são nossos dias
Esses são nossos amores!

quarta-feira, 22 de julho de 2020

AO AMOR ANTIGO

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.



Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 15 de junho de 2020

GOD SAVE ME


About 2 years ago, I was in a hotel in São José do Rio Preto, I felt a deep anguish, a kind of oppression. I didn't know why, I just suddenly felt that there was no reason to be alive, there was no longer any reason to take a shower, to get home after a day at work, to eat or do anything that is part of our routine. I was very scared, it is as if I have been alone in the world, with no one to talk, no one to share my time and attention. It was as if there was no longer an outside world, nothing or anyone for whom it was worth being there. It is how I feel today; without motivation, without joy, without a path ... without anyone!
In that, first experience I simply prayed to God and peace came instantly. I do not know if it was a harbinger of what we are experiencing now in this pandemic, but I am sure that God is at our side and continues to support us and give us hope and strength!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

NAVEGANDO

Eu estou navegando, estou navegando
De volta para casa, através do mar
Estou navegando sobre águas tempestuosas,
Para estar perto de você, para ser livre.
Eu estou voando, estou voando
Como um pássaro, através do céu.
Estou voando, passando por nuvens altas,
Para estar perto de você, para ser livre
Você consegue me ouvir?

Através da noite escura, muito distante
Eu estou morrendo, sempre chorando,
Para estar com você, quem pode dizer?


Nós estamos navegando, estamos navegando
De volta para casa, através do mar.
Estamos navegando sobre águas tempestuosas,
Para estar com você, para ser livre.
Oh, Senhor, para estar perto de você, para ser livre.




*Sailing (music by Rod Stewart)

TUDO O QUE EU SEI DO AMOR É COMO VIVER SEM ELE

Quero uma página em branco, ante uma página rabiscada, cheia de coisas ininteligíveis e obscuras. Melhor desejar escrever uma nova história, mais poética, onde eu possa pintar a esperança novamente, onde eu possa aplacar suas intermináveis dúvidas.
Quero desenhar um novo romance, onde o medo não a faça cair da cama no meio da noite; quero o amor em letras garrafais, sem mas, sem talvez, sem esse mundo estranho e confuso que você diz habitar!
Estou indo, estou partindo para um novo lugar; um lugar onde quero estar, onde prefiro permanecer, esquecer de tudo e aquietar o coração.
Amar é construir, é decidir, é se permitir compartilhar, é caminhar juntos. Amar não é construir um castelinho onde tudo funciona plenamente; ao contrário, o amor acontece quando almas imperfeitas se encontram e decidem viver e sonhar mesmo sabendo que tudo não passa de uma busca inútil da perfeição!

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

CANCÕES QUE EU NÃO ESCREVI


Tudo haverá de emergir, ressurgir
Tudo haverá de nos trair e acontecer
Sem ao menos avisar
A esperança nos reencontrará
Distraídos, teimosos, confusos e sisudos
Como onda do mar, nos quebrará...
Boas novas e amores nos provocam medos, mudanças e readaptações
Não importa o fim, mas no que se transformará
A inquietude, a dúvida e a frieza do coração se dissiparão, com festa, amigos e canções que eu nunca escrevi!

sábado, 8 de junho de 2019

O QUE EU QUERO

Estou velho! O que faz do suposto tempo que me resta uma joia, um tesouro. Estou seletivo, o que certamente me transforma para alguns esnobe e soberbo. Estou cansado de futilidades, de vaidades, de noites mal dormidas por um problema que na realidade, não é um problema. Estou chato, pois não me permito mais escutar longas histórias que não acrescentam, não me dizem respeito. Não falo mais, não quero mais, por um comentário ou posicionamento ser rotulado, escrachado ou medido. O seu preço não é o meu valor, a sua cara insana não pode mais me amedrontar, me ferir; as suas opiniões não me atingem mais...quero o melhor da vida, os melhores amigos, as melhores companhias, os melhores vinhos que regam as melhores relações! Os melhores filhos, os melhores pais e irmãos. Estou velho, não quero mais confrontos e dissensões! Quero música boa, ficar à toa, falar do meu bem mesmo que esteja longe de mim. Quero remar, amar, pescar e embarcar pro além...quero me redimir, assumir meus conflitos, buscar junto aos aflitos razão maior pra continuar. Quero respirar, quero encher meus pulmões e devolver aos ares a vida que me foi soprada um dia, quero vencer minhas dores e preconceitos; quero me render àquele de direito, louvar, agradecer, e subir!

domingo, 21 de abril de 2019

SALVE-ME AGORA

Aqui estou eu, em um lugar em que nunca estive antes, sem amor e com medo de que você não me deixe entrar
Você veio até a mim e aí comecei a sentir que meus sentidos me deixaram para morrer
Onde está minha força quando mais preciso dela?
Diga-me: o que você fez com a minha mente?

Salve-me agora da profundidade de minha paixão
Eu posso me afogar neste mar de amor e isolamento
Te levarei comigo, se você só me salvar agora
Todo aquele tempo que desperdicei eu darei a você, e todo aquele amor que nunca fiz eu farei a você
Nada será mais eletrizante para mim do que te dar o gosto do amor que guardo em minha condição, estou completamente perdido!
Diga-me: o que foi que você fez com o meu orgulho?

Levar-te-ei comigo se você simplesmente me salvar agora!


"Save-me now" Andru Donalds

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

RESUMO DA ÓPERA


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A vida moderna nos comprou, nos prometeu facilidades aparentes, nos prometeu alçar o lugar mais alto do pódium, sucesso nos negócios, nas realizações pessoais, nas relações humanas, nas conquistas em geral.

O trem bala da vida nos enganou, nos ofereceu prosperidade, casa cheia, mesa farta, boas escolas, carrões da hora e incontáveis amigos "azuis".

A tecnologia nos cegou, fez crer que tudo seria mais fácil, mais ágil, mais interessante e atraente. Ela nos escravizou, disse que de hoje em diante teríamos que nos dedicar mais a ela do que a contemplar o belo, o lugar mais singelo, a amizade mais profunda.

A velocidade nos ultrapassou, essa mesma velocidade que a tecnologia criou, e que em algum momento no passado se apresentou inofensiva, necessária e amiga. Cegamos todos juntos, perdemos o norte, ficamos a mercê de máquinas e apps, ficamos presos nos engarrafamentos das redes sociais, das postagens triviais, do engodo, no fato de que ter é melhor do que ser, no fato de quem tem é alguém, e quem não tem não é ninguém!

O foguete da informação nos atropelou, nos condicionou a saber sobre tudo, a opinar em áreas que sequer temos o mínimo conhecimento, no fez guerrear uns contra os outros, nos fez virar a cara para quem nos é caro. Nos separou, nos isolou e nos excluiu; ruiu com os laços de afeto comum que havia, aniquilou amizades antigas, nos fez agressivos, injustos e soberbos!

Tudo aquilo que nos foi vendido como algo bom, hoje, nos cobra a alta conta; não dormimos mais, nãos desaceleramos nossa mente com facilidade, não nos desplugamos do mundo e das coisas, quando deveríamos estar ligados àquilo que de fato tem valor: nossos filhos, pais e amigos. Dispensamos mais atenção aos cães e gatos do que aos nossos vizinhos e colegas de trabalho ou escola.

A vida moderna nos comprou, nos enganou, nos cegou, nos ultrapassou, nos atropelou e nos matou!

terça-feira, 6 de novembro de 2018

VIA SEM DESTINO

Procurando minha bússola ou o trem que perdi.
O vento carregou minha embarcação e eu não percebi.
Ou ainda assim, mesmo me orientando pelas estrelas, tentando restabelecer a rota, sinto que não consegui.
O ponto de ruptura? A via da encruzilhada onde errei, a esquina que equivocadamente dobrei? Eu não sei, eu não sei!

SALMO DE SIMOM

Quando estiveres cansado
Sentindo-se pequeno
Quando as lágrimas surgirem em teus olhos
Eu as enxugarei

Estarei ao teu lado
Quando os tempos ficarem difíceis
E os amigos desaparecerem
Como uma ponte sobre águas turbulentas
Eu me estenderei



Quando a escuridão chegar
E o sofrimento te rondar
E me estenderei
Como uma ponte sobre águas turvas
Eu me estenderei
Como uma ponte sobre águas turbulentas...


Paul Simon (Bridge over troubled water)

domingo, 16 de setembro de 2018

ODE TO DOLORES


Se você pudesse voltar
Não deixaria isso continuar
Não a deixaria desaparecer
Tenho certeza que não

É apenas saudade
Mas que está acabando comigo
Está me fazendo chorar todos os dias
Eu jurei, depois da sua partida, que sempre seria assim

Porquê não segurou minha mão naquele dia?
Talvez eu a faria desistir!
Talvez eu a faria resistir
A meio a tanta dor, Dolores

Assim que estamos agora
Sem sua voz, sem seus acordes
Sem o seu grito em defesa dos inocentes
Sem sua devoção à família

Oh, eu não me imaginava sem você
Não pensei que poderia estar errado
Mas eu estava
E você nos deixou feito zumbis

Se você pudesse seguir tentando viver
As coisas não seriam tão confusas
E eu não me sentiria tão solitário
Mas você realmente não quis mais


Não quis mais suportar tantas dores!


*Adaptação livre de Linger/The Cramberries (Dolores O'Riordan)

CANÇÃO RARA


Quero uma canção de amor
Quero uma canção de paz
Quero uma canção que me faça parar de chorar
Em busca de mais
Quero uma canção de plena beleza
Singela destreza
Amiga do peito

Quero seu entusiasmo
Sua cortina paradoxal
Quero a canção do tempo
Do silêncio
Do barulho infinito
Do grito
Quero uma canção poderosa
Com rosas e café da manhã...


*Nunca imaginei que isso fosse acontecer, mas em meio aos arquivos daquilo que escrevo há anos, encontrei esse poema. Não tenho certeza da autoria, então considerem apenas e tão somente sua singeleza, beleza e doçura!