Coleciono mil fracassos e o descompasso me acompanha nos últimos dias. A decepção e a frustração daqueles que esperam de mim alguma reação carregada com um pouco de nobreza e honra é tamanha.
Sou um projeto que se perdeu na imensidão e na complexidade das escolhas da vida, sou uma promessa que não alcançou seu apogeu. Sou aquele pianista do S.S. Virginian que se acostumou a navegar em mares tortuosos mas que lhe faltou coragem para desembarcar em terra firme e viver a vida sem medo.
Sou vencido pelo cansaço, sou a própria contradição, sou um abstraído, inconvicto e solitário, mesmo com mil pessoas ao redor.
Piso em ruas de ouro sem qualquer cuidado e fé, parto corações sem razão, tão natural em mim é a inclinação para semear sofrimento, não me deixar acessar, não me deixar transparecer.
Luto contra mim e contra minhas fraquezas sem que haja vencedor, mantenho-me inerte, sem norte, no obscuro do meu ser, no meu egoísmo sincero, nas trapaças do destino que trilhei, na vergonha de não ter feito o certo, na derradeira decisão que não tomei!
Tarde ou não estou aqui, com a sombra do que me restou, com lamentos do que eu poderia ter sido, sob a pesada pena do amor que não espalhei.
Tarde ou não eu morri, me perdi, te mergulhei em pecados dos quais jamais escapou.
Perdão não cabe mais, tarde ou não, ficou pra trás, nem um afeto ao menos, nem um teto como queríamos, só o fruto bendito desse vento que passou em nossas vidas.
Neto Vilhena